quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CULTIVANDO AS FRASES - Joaquim Filho (Pedreiras - MA)

Joaquim Ferreira Filho, nasceu no dia 22 de outubro de 1964, na cidade de Pedreiras. Pertence à Associação dos Poetas e Escritores de Pedreiras – APOESP, membro-fundador da Academia Pedreirense de Letras – APL e está no 8º período do curso de Letras na Faculdade de Educação São Francisco. Publicou quatro livros de poesia: Criança de Rua – 1990; Retratos da Minha Inspiração – 1994; Meus Versos Alados – 1998; Poesia, Essência da Vida – 2006. No prelo, o livro Casa de Taipa (Crônicas frases e poemas).


As frases que foram e ainda são construídas todos os dias, e que muitas das vezes são proferidas pelas pessoas em momentos ocasionais de suas vidas, são a grande prova de que a Sabedoria Popular está presente no nosso dia-a-dia, enriquecendo a nossa Língua e a nossa Cultura. Elas fazem parte do nosso cotidiano, e sem que percebamos, estamos falando de forma tão natural, seja na família, na escola, no trabalho, na igreja, nas palestras ou aonde quer que estejamos.                                                                                                                  Lembro-me de uma frase do poeta João do Vale em um comercial de TV, lá pelos anos 80, que ele dizia: “Escorregar não é cair, é um jeito que o corpo dá”. Meu compadre Samuel Barrêto costuma dizer que quando alguém morre, “Parte fora do Combinado”. Meu amigo Edílson Macêdo, certa vez, quando excursionávamos no Estado do Ceará, no final dos anos 80, para explicar-me que não há problema sem solução, dissera: “Debaixo do Sol tudo se resolve”. Quando eu trabalhava na Gravadora Continental Disco, em São Paulo, ouvi o meu Chefe, Dr. José Gonçalves – Diretor do Departamento Pessoal – dizer a um colega que estava flertando e querendo sair com uma funcionária da Empresa: “Não se deve comer a carne onde se ganha o pão”. O experiente e amadurecido cantor Paulo Pirata, quando vê alguém impaciente, querendo resolver as coisas de forma truculenta e impensada, diz: “Muita calma nesta hora”. O mestre de obras e boêmio Raimundo Vidal, que nos deixou recentemente, quando percebia que alguém havia entrado na sua intimidade, de forma afável, soltava o seu bordão com um tom de brincadeira e bastante amistoso: “Olha meu filho, você entrou demais!”. E por que não lembrar o provérbio do senhor Geraldo do Trânsito, que na sua concepção de mundo as coisas têm que ser assim: “Cada qual com seu cada qual”. Você entendeu?
                        Quem conhece o Chiquinho da Calçadeira, e já esteve com ele nas farras, é sabedor que o boêmio depois de tomar umas duas, se empolga, sobe numa mesa ou numa cadeira, e começa com os seus discursos longos que, só perdem para os do presidente de Cuba, Fidel Castro. E entre uma frase e outra, a de maior ênfase é a que diz “Até porque...”. Observa-se que o “Até porque” de Chiquinho, é um referencial, é uma fonte de inspiração para poder dá uma direção ao seu raciocínio diante das palavras.  Ainda em São Paulo, quando eu trabalhava na empresa de turismo – SOLETUR – que era situada na avenida São Luís, e bem em frente, havia um pequeno restaurante, onde as pessoas tomavam o seu café da manhã. E por várias vezes eu presenciei um senhor que trabalhava numa outra empresa de turismo, chegar saudando os presentes da seguinte forma: “Bom dia para quem tem educação!”. Todas as pessoas se sentiam na obrigação de responder, pois, mesmo que ali estivesse alguém mal educado, com certeza, não iria assumir publicamente. Depois eu passei a entender, que aquilo era uma saudação de estratégia, pois é muito comum se chegar num ambiente, se dá bom dia, e as pessoas não responderem, sem falar também das pessoas que chegam e não cumprimentam ninguém, sobretudo, se este lugar é São Paulo, onde o corre-corre do dia-a-dia não permite identificar e nem observar as pessoas.
                        Viajando nos meus tempos de menino, ainda guardo na minha memória uma frase que tinha no adesivo colado ao vidro da petisqueira de minha avó – que ficava na sala. Todos ao adentrar a sua humilde e singela casa, deparavam-se com a frase: “O mundo todo não vale o meu lar”. E para mim, que tive o prazer de conhecer a minha avó materna, sei muito bem o valor que tinha o aconchego da casa de minha vozinha.                                          
                        O empresário José Valdeci Silva quando se reúne com seus funcionários, costuma alertá-los, dizendo-lhes: “A parte mais dolorida do ser humano é o bolso”. A frase geralmente é estendida àquelas pessoas, que no exercício de suas tarefas, às vezes, por relapso, cometem delitos que venham a trazer prejuízos às suas Empresas, e neste caso, se paga pelo erro mexendo no bolso, no bolso do funcionário reincidente, claro.
                        “Está certo assim? Está não!”.  “Está certo assim? Agora está!”. Esta seqüência dupla de jargões por várias vezes fora dita pelo polêmico locutor e apresentador de televisão Walter Júnior, que diante dos fatos sociais, negativos ou positivos, se acha com autoridade para criticar o que está errado, e enaltecer aquilo que está certo, proferindo as suas frases já bastante conhecidas por todos, por onde quer que ele passe.
                        E assim, são muitos provérbios, bordões, frases, jargões e ditos populares, que caracterizam o jeito de pensar, de se expressar e de viver do nosso povo, e muito embora sem a plena conscientização de está contribuindo para a nossa lingüística e a nossa identificação cultural.






terça-feira, 19 de outubro de 2010

DELÍRIO - Edézio Monteiro - Esperantinópolis (MA)

Edézio Monteiro da Silva, empresário, poeta, membro da Academia Esperantinopense de Letras


Oh! Minha deusa profana
Meu doce e glorioso
Objeto de prazer!
Beija-me.

Oh! Minha deusa profaaana
Meu belo e amado
Depósito de esperma
Suga-me
.............................................................
O que mais queres ser?
.............................................................
Oh! Minha deusa profana
Caricata, cigana
Mar revolto
Sortilégio!
Abraça-me
Oh! Minha deusa profana
Da língua sedosa
No meu corpo mal dormido
Fogo na lareira
Grita-me

Oh! Minha deusa profana
Do rito sumário do bumbum que
Abunda
Fundo do poço!
Lambe-me
.....................................................
Quero sair de dentro de mim
Para que entres sempre
Que eu possa sorrir,
Ama,  gozar (a vida)
Sem me preocupar
.........................................................
Oh! Minha deusa profana
Anoitecer sem tardes cinzentas
Uísque sem gelo
BLECAUTE
Esgana-me, esgana-me
Engana-me
              (enfim)

Oh! Minha deusa profana
Fugaz, sagaz, sacana
Traidora perfeita
Do amanhã que não virá
Mata-me, mata-me
De amor!!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A VIAGEM SEM VOLTA - Elizeu Lima Nascimento

Oh quão soberana e democrática morte
De onde vens não se sabes,
Más se sabes que um dia virás
E , no teu bonde lúgubre da viagem pro além...
Não poupas ninguém, quando a hora vem.

E nesse instante em que chegas,
Tirando o folêgo da vida...
Levando  prá terra,  a matéria do chão
Devolvendo-a   ao torrão,
E deixando pros que ficam, arranhões no coração.
  
És o temor de todos, de todos os homens, todos  enfim...
Nivela a todos, todos tombam frente a te,
Más,  te peço uma coisa oh senhora morte...
Que por longos, longos anos, passe distante,
Muito!,  muito distante de mim!.

No entanto, antes, rogo a Deus por mim,
Prá que quando a senhora destruidora da matéria vier,
Que a passagem à outra vida seja veloz,
Rápida como o clarão dum relâmpago - luz,
Pela providência divina...
Do amor e da bondade de Jesus.

E quando da partida para a vida eterna
Quando me for chagada a hora fatal,
Que os anjos  em sintônia cantem...
No céu uma linda melodia,
Como que o cantar dos passáros
No amanhecer de um novo dia.

Que ninguem por mim se entristeça,
E que nenhuma lágrima da face deça
Más, que lembranças,  guardem-me dos bons momentos
Que a vida me presenteou,
Emoções, alegrias, trabalho, vitórias e amor.
  
No habitar da matéria final
Sob a laje fria do campo natural,
Me tragam flores e mensagens de paz
Poesias, versos...
Aqui  jaz um poeta!  em meio a ramais.
  
Quanto a Parte do pranto,
Eu,  entrego-a  num canto,
À lua, às estrelas, às arvores
Ao orvalho da noite, da madrugada, ao amanhecer do dia...
Que me farão  permanente companhia.

                                                                 Eliseu Lima Nascimento
                                                                            Madrugada do dia 13/11/2009
                                                       00:53 (Zero hora e cinquenta e tres minutos).




segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A MODA QUE A MODA É - Nilton Lee

Padrão de beleza. Qual é o seu? Na verdade não há padrão de beleza que suspenda ou aniquile a beleza real do ser humano, por mais “fora do padrão” que ele se encontre. Simplesmente porque o padrão não consegue ditar e fechar as portas diante do que enxergamos além dos olhos, e sabemos que o belo é o que nos fala a alma, tem mais profundidade, é mais extenso, denso e às vezes, até inexplicável.
Quem criou o tal padrão de beleza? A mídia? A moda? Ambas? A verdade é que a moda, esse consumo de objetos ou mesmo de idéias, se forma mais classicamente na perseguição obstinada da sociedade pelo padrão de beleza em vigor. Em vigor? Sim. Isso mesmo. Porque esse padrão é mutante, efêmero e questionável.
A moda dispensa qualquer lógica, transcende o caráter utilitário de uma peça de vestimenta ou adorno. Um dos fenômenos mais emblemáticos da pós modernidade, ela é a identidade e a identificação do sujeito perante a sociedade em que se insere.
Até os idos dos anos 70, no Nordeste, onde vivi minha infância, a cultura local dizia que a pessoa gordinha era sinônimo de prosperidade, além da clássica beleza estética, associava-se à sua imagem a figura de alguém que estava prosperando na vida. Era comum ouvirmos a expressão: “está bom e gordo?”, nos cumprimentos corriqueiros de rua entre amigos que se e encontravam. Era uma forma elementar de cumprimento.
“Tá ficando mais gordo, cada vez mais rico” – outra expressão, dava a entender que uma coisa estava sempre ligada à outra, naquela cultura que hoje não mais existe por conta do que nos impõem a moda e a mídia.
Na verdade é que nas pequenas cidades do interior nordestino a televisão demorou a chegar. Esse veículo de comunicação de massa só veio a ser instalado de forma a atingir todo o território nacional da maneira que ora presenciamos, nos meados dos anos 80. Com o advento da televisão, as culturas locais, tribais começaram a sofrer influência, e os padrões de beleza foram modificando de forma rápida, e seguindo a imposição da mídia, bem como da moda externa ao seu conhecimento até então.
Lembro que morava na minha casa, ainda na minha infância, uma mocinha vinda da zona rural, na verdade, de uma fazendola dessas escondidas nos fins de mundo do interior nordestino, onde dizem que Deus fez questão de esquecer.  Essa mocinha quando veio morar conosco na cidade, que já tinha acesso à TV, logicamente começou a sofrer a influência de tal veículo, como já acontecia com as colegas, com as novas amigas que constituiu na sua nova “aldeia”.
Estudava na cidade, onde morava conosco, e nas férias ia para o interior, para a roça. Lá, ao chegar, as pessoas logo faziam a observação: “nossa, como você está magra, menina. Não estão te tratando bem por lá?”. Até colocavam em cheque o tratamento dispensado pela minha família. Mas com o advento da antena parabólica se alastrando pelos povoados nordestinos, a televisão por fim chegou ao seu sitiozinho. Nas férias seguintes ao acontecimento, os comentários passaram de maldosos, para “Nossa, como você está linda. O que você faz para ficar com um corpinho assim? Me dá sua receita de  beleza”. A menina, que sempre foi magrinha, passou imediatamente de desassistida à padrão de beleza.
Kathia Castilho e Marcelo Martins, na sua obra “Discursos da moda, semiótica, design e corpo”.Colocam a seguinte  consideração:
“As mídias especializaram-se cada vez mais em construir mundos perfeitos, possíveis, desejáveis, prováveis, e tanto outros nos quais se espelham os sujeitos e seus destinatários. Todas essas criações estão pautadas em estratégias narrativas, discursivas e mesmo nas de textualização que geram tais efeitos de sentido de construções de mundo, aos quais subjaz, sempre, a de ilusão de que determinado produto, publicizado pelas mídias, é absolutamente necessário, desejável, querido, fundamental, imprescindível para seus possíveis consumidores.”
Queremos seguir o padrão. Queremos ter o padrão da beleza. Mas não seria melhor seguirmos o padrão da felicidade? O sofrimento das pessoas ante o preconceito imposto pelos seguidores da estética perfeita, ante mesmo suas dificuldades em manter-se no padrão de magreza que a “roda” cobra. Será se não é um sofrimento em vão?. Quão efêmera é a moda, quão fulgás é o conceitual.
Lembro bem que há alguns anos, o padrão de beleza repousava nas mulheres de grandes bumbuns e pequenos seios, pois bem, nisso lembro também que acompanhei o caso de mulheres de seios fartos que queriam se livrar deles, torná-los menores, como mandava a regra da moda. Para isso, e para justificar cirurgias de redução, algumas inventavam até mesmo problemas na coluna. “Ah, sinto muitas dores, porque meus peitos são muito pesados”, diziam.
O novo padrão é o de seios grandes. Sabe aquela dor de coluna? Sumiu. Que se danem as dores. Seios grandes estão na moda, é o que diz a mídia. Redução que nada. Silicone neles!
Efêmera, cruel, mas seguida, consumida, adquirida. Assim é a moda, na perseguição implacável ao padrão de beleza. A felicidade, porém, pode habitar em outros valores. Em você aceitar-se, curtir-se, respeitar-se e se fazer respeitada, amada e poderosa tal qual você é. Ninguém, afinal, vive a vida sobre uma passarela, desfilando roupas de griffe. A vida é mais que isso!